O Primeiro Beijo
Em 2006, a diretora URÂNIA MUNZANZU foi parada na volta do trabalho por RILDA, uma mulher negra, em situação de rua e usuária de crack. A mulher, silenciada pelo racismo precisava falar , ela estava decidida a contar sua história. Urânia parou, ouviu e a pedido de Rilda ao longo de quatro anos transformou as experiências em filme. Urânia, também mulher negra cujo corpo historicamente se tornou invisível pelo racismo, sexismo e misoginia, entendeu que Rilda estava em uma situação ainda pior, situação da qual nenhuma mulher negra está escape. A experiência de marginalização aprofundada pela dependência do crack tornou Rilda um alvo muito mais vulnerável à violência sistêmica que historicamente atingiu o corpo das mulheres negras no Brasil. A denúncia precisava ser feita. O Primeiro Beijo está em produção há cerca de quatorze anos. Nesse período, Urânia conversou com algumas destas mulheres negras brasileiras cujas vidas foram atravessadas por essa tecnologia de escravização, que a sociedade dá o nome de crack. São mães, filhas, esposas, e toda uma geração atingida por violências de gênero, raça e de estado. O filme traz depoimentos pessoais sobre como a despeito do crack essas mulheres lutaram por vida, dignidade e direitos, enfrentando a alienação parental, a violência doméstica, violência sexual sem sucumbir à morte e aos desígnios da omissão de um Estado misógino.
